A Múmia Mais Antiga Do Mundo Descoberta Em Portugal

Métodos muito elaborados de mumificação foram utilizados em diversos outros lugares como no Egito antigo, no Deserto do Atacama no Chile, mas nenhum supera a mais recente descoberta no Vale do Sado, em Portugal: é um exemplar mumificado que foi sepultado há cerca de 8.000 anos, no território onde hoje é o país lusitano.

Esta descoberta é parte de mais de uma dúzia de corpos encontrados nesta região, em escavações dos anos 1960, e que também mostram traços de mumificação.

O motivo dessa descoberta ter sido feita somente agora é que os restos humanos haviam sido encontrados em escavações e fotografados pelo arqueólogo português, Manuel Farinha dos Santos, falecido em 2001. As fotos não haviam sido estudadas ainda. Trata-se de muitos filmes fotográficos em preto e branco, que retratam 13 covas do Mesolítico, ou seja, meados da Idade da Pedra.

Vale do Sado, em Portugal.

Os corpos estavam sepultados em dois sambaquis (ou concheiros), que seriam formações constituídas, principalmente, de conchas de moluscos formados ao longo de milhares de anos pelas populações que habitavam regiões litorâneas. Essas conchas eram descartadas após o consumo dos moluscos, formando imensas montanhas. Mais especificamente eram os sambaquis de Poças de São Bento e d’Arapouco escavados em 1960 e 1962 no Vale do Sado em Portugal.

O exame das imagens revelou alguns detalhes sobre o tratamento dos cadáveres e ofereceu novos insights sobre os locais de sepultamento. Alguns cadáveres foram mumificados, fenômeno que os autores associam à valorização e transporte dos mortos e que realça a importância do corpo e do local de sepultura durante o Mesolítico no sul de Portugal. 

Fotografias de Manuel Farinha dos Santos onde se podem ver as múmias estudadas.

MÉTODOS MODERNOS DE ESTUDO DAS MÚMIAS

Em locais mais úmidos, como a Europa, os tecidos mumificados tendem a deteriorar rapidamente, e dificultar a vida dos arqueólogos. O trabalho experimental e a combinação de diferentes métodos torna a identificação possível.

Os pesquisadores utilizaram as fotografias para reconstruir as covas nos dois locais estudados, e então passaram a observar os restos mortais. Eles notaram que os ossos de um dos esqueletos estavam hiperflexionados, ou seja, os membros haviam sido forçados além dos seus limites naturais: uma indicação de que ele havia sido amarrado, e as amarras, apertadas após a morte. Outro fato é que o esqueleto ainda estava articulado, ou seja, “encaixado” em seu devido lugar após o enterro, especialmente os ossos pequenos do pé, que geralmente se espalham após a decomposição.

Ilustração de como o corpo do Vale do Sado teria sido mumificado, há 8.000 anos.

Além disso, não havia sinais de movimentação do solo após a decomposição de tecidos moles do corpo, o que encolhe o cadáver, e que resultaria no preenchimento desse vazio com sedimentos. Como os sedimentos não ocuparam esse espaço, isso é um sinal de que tal decomposição não ocorreu. Todas essas indicações, combinadas, são uma evidência de que o corpo foi deliberadamente mumificado após a morte, provavelmente dissecado e compactado com uso das amarras.

Com métodos de mumificação forense usados em cadáveres modernos, foi possível demonstrar os prováveis métodos utilizados para a mumificação do exemplar do Vale do Sado, há 8.000 anos.

Ele provavelmente foi posto num local elevado, como uma plataforma, para que os fluidos de decomposição fossem escoados para longe do corpo. Então, o fogo pode ter sido utilizado para secar o cadáver, e as suas amarras, apertadas ao longo do tempo, mantendo a integridade anatômica, mas aumentando a flexão dos membros.

Embora outros corpos sepultados no Vale do Sado apresentem alguns dos sinais de mumificação, eles não são semelhantes ao exemplar de 8.000 anos. Eles podem ter sido trazidos de outros locais para serem enterrados no vale, então, nesse caso, teoriza-se que a mumificação tenha sido feita para facilitar o transporte, já que deixa os corpos menores e mais leves.

Acredita-se que o corpo de 8.000 anos não será o recordista por muito tempo: há indícios de mumificação de até 10 mil anos atrás e El Wad e Ain Mallaha, em Israel, e de 30 mil anos atrás na Bielorrússia. 

Esqueletos que dão pistas sobre como era a mumificação no Mesolítico.

Referências

www.mundoeducacao.uol.com.br
www.cambridge.org
www.revistagalileu.globo.com

1 comentário em “A Múmia Mais Antiga Do Mundo Descoberta Em Portugal”

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