Este caso ufológico poderia ser mais um dos tantos que passaram a ser reportados a partir de meados do século XX, mas ocorreu há mais de 200 anos no Japão. Quem o descobriu foi ninguém menos do que Carmen Blacker (1924-2009), uma das maiores especialistas do mundo em religião e folclore japoneses. Estudiosa britânica da língua japonesa desde os 12 anos de idade, professora de japonês na Universidade de Cambridge e membro da Academia Britânica, Blacker desempenhou um papel fundamental ao ajudar a restabelecer a Sociedade do Japão em Londres nos primeiros anos do pós-guerra e contribuiu muito para seu sucesso futuro através de suas palestras como membro do Conselho e mais tarde como vice-presidente honorária. Entre suas obras mais significativas estão The Japanese Enlightenment: A Study of the Writings of Fukuzawa Yukichi (Cambridge University Press, 1964) e The Catalpa Bow: A Study of Shamanistic Practices in Japan (London, George Allen and Unwin, 1975). Em 2000, ela publicou seus Collected Writings (Tokyo, Edition Synapse), repleto de casos de “abduções sobrenaturais no folclore japonês”, como ela mesmo as chamava, isso mesmo. Na página 119 e seguintes da Parte 1 (Religião, Mito e Folclore), no tópico intitulado “Hirata Atsutane e Notícias Estranhas do Reino dos Imortais”, Blacker reproduz a lenda do Tengu do Monte Iwama, que traduzo e sintetizo a seguir.
No final da tarde de um dia do ano de 1815, Torakichi, um garoto de 7 anos de idade da cidade de Edo (antigo nome da capital japonesa Tóquio, e que era a sede do poder do xogunato Tokugawa, que governou o Japão de 1603 a 1868), passava pelos portões de um santuário (jinja) quando viu um velho vendendo remédios fitoterápicos sob um quiosque em forma de “tigela”. Esse quiosque, de repente, levitou no ar e voou para o céu. Intrigado, Torakichi voltou no dia seguinte e novamente encontrou lá o velho vendendo seus remédios à base de plantas. Ele esperou pacientemente e observou, no final do dia, o velho entrando em sua “tigela” para voar novamente em direção ao pôr do sol.
Torakichi voltou nos dias seguintes para espionar o velho comerciante que, notando o interesse e curiosidade do garoto, o convidou a voar na tigela. “Eu posso lhe mostrar muitos lugares interessantes”, disse ele.
Embora inicialmente hesitante, o garoto acabou acedendo. Ele entrou na tigela com o velho e voou primeiro sobre as altas montanhas da província de Hitachi e, depois, em viagens subsequentes, ao Monte Iwama, onde o velho morava. Ao longo dos quatro anos seguintes, o menino se tornou um aluno formal do velho que o treinou nas artes da magia, medicina, escrita e artes marciais.
Durante esse período, o menino viajou por toda a Terra e até pelo espaço. Quando não estudava com seu mestre, o menino morava em um templo budista da seita Nichiren. O velho, que queria permanecer anônimo, pediu a Torakichi: “Apenas diga que meu nome é Sugiyama Sojo e que eu sou um dos treze tengu que moram no Monte Iwama.” Os tengu são fantasmas demoníacos que mudam de forma, encontrados nas lendas japonesas, que podem ser espíritos malignos ou protetores.
Em 1820, a história de Torakichi chamou a atenção de Hirata Atsutane (1776 -1843), um dos maiores teólogos e estudiosos do xintoísmo, que localizou o garoto e o entrevistou diversas vezes, publicando suas descobertas em 1822 em um livro chamado Senkyo Ibun (Notícias Estranhas do Reino dos Imortais).
No livro, Atsutane pergunta a Torakichi: “Como esse país se parecia no céu site importante?”, ao que o garoto responde: “Ao voar para cima, você vê mares, rios, planícies, montanhas e até estradas, todas estendendo-se enormemente amplas por todos os lados. Mas quando você voa mais alto, eles gradualmente se tornam cada vez menores até que você esteja tão alto quanto as estrelas e este país dificilmente parecerá maior do que a Lua.” Quando perguntado como era a Lua vista do espaço, o menino respondeu: “Os lugares da Lua que brilham são como grandes mares misturados com lama. E o lugar que as pessoas chamam de lebre batendo bolos de arroz consiste na verdade de dois ou três buracos abertos.” Quando perguntado de que substância era feito o Sol, Torakichi respondeu: “O Sol é muito quente para que se possa aproximar, mas quando você voa alto pode dar uma boa olhada nele, e você vê relâmpagos brilhando entre as chamas. Não há como saber do que é feito o Sol, mas parece mais fogo do que algo sólido.”
Algumas descrições do livro são consistentes com o que sabemos hoje por meio da ciência, o que é surpreendente, considerando que o livro foi publicado em 1822. Por outro lado, há muita coisa no livro que pode sugerir que o garoto era um bom contador de histórias dotado de uma vívida imaginação, como quando relata ter se encontrado com um dragão aquático ou visitado uma terra onde as pessoas vestiam peles de cães e se comunicavam por meio de latidos.
A história está repleta de descrições de estranhas máquinas voadoras e encontros com seres alienígenas. Quem sabe ao certo onde a realidade termina e a fantasia começa? Tudo o que sabemos é que casos como esses estão presentes nas lendas e mitologias do mundo todo e continuam se repetindo até hoje. Talvez um dia possamos chegar ao âmago desse mistério, mas, até lá, tudo o que podemos fazer é estudar esses eventos incomuns, procurando pistas sobre o que pode estar escondido em nosso universo misterioso.
Adorei! Me lembrou o Urashima Taro e a Tartaruga.😊
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