Um vasto acervo da cultura material foi encontrado no sítio arqueológico durante o processo de licenciamento ambiental e cultural das obras do Cinturão das Águas.
Desde a década de 1980, pesquisas indicam a presença de diferentes grupos de origem Tupi, identificados como proto-tupi, ou variadas tradições relacionadas ao tronco linguístico Tupi, em áreas de interior.
Na comunidade de São Bento, na cidade do Crato, a descoberta de artefatos em um sítio arqueológico aponta a presença de grupos Tupi na região do Cariri. O material foi coletado em uma pesquisa realizada entre os anos de 2013 e 2021 e reforça teses levantadas por estudos arqueológicos na década de 1980. Materiais coletados, como restos de fogueira, ainda contendo quantidade significativa de carvão, foram enviados para datação em um laboratório da Flórida, nos Estados Unidos, e concluíram essa presença no Ceará há cerca de 2.400 anos.
Foi classificado como um sítio Tupi por conter um vasto acervo arqueológico da cultura material desses povos, conhecidos pela ampla e rica produção ceramista e lítica, além da agricultura e especificidades da dieta alimentar e outras atividades culturais e tecnológicas.
Foram encontradas nas escavações uma grande diversidade de fragmentos e vasilhas em cerâmica ricamente decoradas. Mas, somente a partir do processo de datação, pode-se descobris quando estes grupos passaram pelo território do interior cearense. Para isso, foram coletadas estruturas de combustão em blocos e seixos rochosos. Também podem ser enviados ossos ou outros materiais orgânicos. O carvão encontrado no mesmo contexto da cerâmica passa pelo processo de datação por “Carbono 14” ou “Radiocarbono” no laboratório BetaAnalytic, na Flórida, nos Estados Unidos, o mais próximo do país capaz de apontar esses resultados.
Os resultados do processo de datação apontaram para cerca de 2,4 mil anos atrás. O carbono coletado para a datação é destruído durante o processo de análise, enquanto o restante das peças encontradas, como material cerâmico e lítico, estão na Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Cariri, instituição de endosso e salvaguarda do acervo arquelógico.
Os estudos arqueológicos e antropológicos concluem que o tronco cultural linguístico Tupi tem sua origem na região amazônica, no Norte do país, mais especificamente no atual estado de Rondônia, em períodos pré-coloniais, e a partir daí dispersaram-se para outras áreas do território brasileiro através da Região Centro-Oeste, seguindo então pelo Sul, Sudeste e Nordeste. Antigamente se acreditava que essa dispersão tivesse ocorrido apenas pelo litoral. Mas, desde 1980, pesquisas demonstram a presença de distintos grupos de origem Tupi, os chamados proto-tupi, ou diferentes tradições relacionadas ao “tronco linguístico Tupi”, em áreas de interior.
A conclusão dessa pesquisa corrobora com as novas teses de que os grupos Tupis ocuparam o interior do Nordeste. A grande dúvida é de como essa migração se expandiu por áreas litorâneas e de interior, sendo que, até então, a região mais dominada de ocupação que se tem certeza seria a área litorânea. Estas novas informações enriquecem o conhecimento da história pré e pós colonial no Cariri cearense e também fortalece seu território diante da proposta de tornar a “Chapada do Araripe” um patrimônio cultural da humanidade junto à Organização da Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Cariri, Kariri, Kairiri ou Kiriri é a designação principal família de línguas indígenas do sertão do Nordeste do Brasil. Vários grupos locais ou etnias foram ou são referidos como pertencentes ou relacionados a ela. Na literatura especializada, existe uma larga discussão sobre os pertencimentos dos grupos indígenas do sertão à família Kariri ou a outras famílias.
Referências
A geografia do Ethos capitalista no Cariri cearense – Cláudio Ubiratan Gonçalves
PT.m.wkipedia.org/wiki/Cariris
diariodonordeste.verdesmares.com.br
Sou pesquisador amador da cultura material e imaterial indígena no Cariri Cearense. Sou parceiro da Fundação Casa Grande. Nas minhas *andanças* de pesquisa eu encontrei vários materiais em cerâmica e líticos. Todos doados para estudos e socialização de conteúdos. Sou poeta, radialista profissional free-lancer, escritor, aposentado como professor. Sou pedagogo e já fui agraciado com diversas comendas, entre elas do Cariri Cangaço e Guardião da Cultura de Brejo Santo, Sul do Ceará.
Aprecio o material e a seriedade de vocês que fazem o conhecimento fluir. Um abraço do EREMITA URBANO Tancredo Teles.