Combinação das palavras ishi (pedra) e butai (palco), ou seja, literalmente “Palco de Pedra”, o Ishibutai Kofun, na vila de Asuka, em Nara, erguido por volta do início do século VII, é formado por 30 megálitos colossais de granito que pesam ao todo cerca de 2.300 toneladas. Os dois maiores, a comporem o teto, pesam 77 e 64 toneladas. Com que ferramentas foram cortados e de que forma foram carregados de uma distância de aproximadamente 3 quilômetros, para serem erguidos e finalmente encaixados sem que houvessem guindastes, é um mistério que remanesce até hoje, juntamente com a identidade de seus construtores.
Na vila de Asuka, em Nara, no leste de Shimanoshō, está um dos raros kofuns abertos – em todo o seu interior – à visitação do público no Japão: o Ishibutai, onde teria sido enterrado Soga no Umako (551-626), um poderoso e influente político do Período Asuka (552-645). Filho de Soga no Iname (506-570), um membro do Clã Soga, família aristocrática japonesa dominante durante o século VII, Soga no Umako conduziu reformas políticas juntamente com o lendário Príncipe Shotoku (574-622) durante os reinados do Imperador Bidatsu (538-585), o 30º Imperador do Japão (a partir de 572), e da Imperatriz Suiko (554-628), o 33º Imperador do Japão (a partir de 592), e estabeleceu a força do Clã Soga no governo ao casar sua filha com membros da família real.
No final do século VI, Soga no Umako contribuiu sobremaneira para implantar as bases do budismo no Japão ao empregar imigrantes vindos da China e da Coreia, obtendo deles, em troca, novos conhecimentos e tecnologias. O historiador e arqueólogo Sadakichi Kita (1871-1939) foi quem propôs que o Ishibutai Kofun é o túmulo “Momohana” de Soga no Umako, conforme mencionado no Nihon Shoki (Crônicas do Japão), o segundo livro mais antigo sobre a história do Japão.
A maioria dos kofuns são preenchidos com terra, mas Ishibutai tem uma forma única, do tipo corredor Yokoana (“Orifício Lateral”), expondo uma enorme câmara funerária de pedra em estilo de túnel, uma tumba de pedra anexada à passagem que leva à câmara onde os corpos são armazenados.
O Ishibutai era originalmente um kofun do tipo grande e achatado. A estrutura de pedra existente era coberta na época da construção por um monte de terra amplo e plano. Lentamente, com o tempo, a terra que cobria as pedras erodiu, expondo assim os dois grandes megálitos do teto da tumba, um ao norte e outro ao sul. Sadakichi Kita, porém, propôs ter sido o monte de terra do Ishibutai Kofun removido após a morte de Soga no Umako como uma punição do Clã Soga pelo governo imperial.
O megálito ao norte da tumba, à esquerda, pesa aproximadamente 64 toneladas, e a pedra maior ao sul e à direita pesa aproximadamente 77 toneladas. O nome Ishibutai é uma combinação das palavras ishi (pedra) e butai (palco), ou seja, literalmente “Palco de Pedra”, pois a superfície da pedra do teto é ampla e plana, lembrando o palco de um teatro. Lendas folclóricas locais dão conta que raposas eram vistas no topo do kofun dançando nas noites de lua cheia, usando as pedras como um palco para suas performances.
Construído no contraforte de uma montanha que desce a nordeste até um pequeno planalto, Ishibutai Kofun consiste em uma plataforma, uma entrada de galeria, paredes de pedra que formam uma tumba, duas grandes pedras que formam um teto para a tumba e diques em cada lado da tumba. O peso total das 30 pedras que formam o kofun é estimado em nada menos de cerca de 2.300 toneladas! Os grandes megálitos de granito vieram do Monte Tōnomine, que fica a aproximadamente 3 quilômetros do local.
O Ishibutai Kofun ocupava originalmente uma área muito maior do que os atuais 27 m2 evidenciado pelo túmulo de pedra existente. Foi construído sobre uma plataforma quadrada, que media 50 metros de cada lado. Escavações arqueológicas revelaram que o kofun era cercado por um fosso, característica típica de outros kofuns da época, fosso esse que media cerca de 12 metros. No total, o kofun, a plataforma e o fosso cobriam uma área aproximada de 85 metros de comprimento.
O Ishibutai tem um caminho de entrada particularmente longo, que mede 38 metros. Pequenos canais de drenagem correm ao longo do leste, norte e oeste da tumba. Eles foram construídos para drenar a água coletada do lado norte da tumba para o sul no canal de drenagem raso na entrada do kofun. Esse canal de drenagem raso de 11,5 m de comprimento e 2,55 m de largura percorre o comprimento do caminho de entrada, originalmente coberta como a tumba, mas seu teto de pedra não existe mais.
O Ishibutai Kofun foi erguido por volta do início do século VII, quando obviamente não existiam guindastes ou qualquer outro tipo de veículo de transporte. No entanto, a arqueologia oficial explica que essas enormes pedras foram de alguma forma carregadas pela força humana, com os recursos e a tecnologia de transporte disponíveis na época. Um guia turístico local explicou-nos com o auxílio de fotos e diagramas, que as pedras foram movidas para a posição usando simples rolos de madeira, cordas e roldanas, uma operação que teria exigido tempo, arrojo, habilidade e mão de obra consideráveis. Um buraco fundo era escavado e lá as pedras eram colocadas de pé. Então cobria-se o buraco com terra até o topo das pedras verticais, enquanto outras pedras grandes eram movidas sobre a terra e colocadas no topo das pedras verticais. Quando tudo estava no lugar, a terra de suporte era removida deixando apenas as pedras. Esta engenhosa técnica de construção teria também sido usada na feitura da estátua de bronze colossal do Buda Vairochana (Daibutsu) no templo Tōdai-ji em Nara, onde estive poucos dias antes.
No lado sul, há um caminho que leva ao interior do Ishibutai. A altura da entrada é de cerca de 2 metros. A câmara interna, chamada de Genshitsu (“Sala Antiga”), mede cerca de 4,8 m de altura, 7,5 m de comprimento e 3,4 m de largura, e teria servido para armazenar lenha. Uma vez dentro da câmara, que pode facilmente acomodar umas 30 pessoas, fica-se imediatamente impressionado com o tamanho das pedras que formam as paredes e o teto alto. A pedra no topo é o maior megálito do Ishibutai Kofun. O interior parece escuro por fora, mas o interior é iluminado pela luz solar.
Os kofuns imperiais são considerados sagrados, motivo pelo qual permanecem em sua maioria intocados, mas devido a associação de Soga no Umako com o Clã Soga, o túmulo de Ishibutai não tem uma designação imperial e, portanto, sofreu escavações extensas. O kofun foi escavado pela primeira vez em 1933 pelo arqueólogo e acadêmico Kōsaku Hamada (1881-1938), presidente da Universidade de Quioto. Os trabalhos na base e no fosso começaram em 1935 e a escavação da tumba continuou até 1975.
Contudo, a escavação não resultou em achados significativos. Nenhum caixão de pedra foi encontrado nas escavações. O sarcófago em exposição na lateral do kofun foi replicado assumindo que os fragmentos encontrados na câmara mortuária de pedra teriam sido partes desse sarcófago. Objetos funerários valiosos provavelmente foram roubados por ladrões de túmulos logo após sua construção. Numerosos instrumentos dourados e de bronze, bem como cacos de cerâmica, foram encontrados nas margens do túmulo. A escavação também revelou que outros kofuns de pedra plana semelhantes foram construídos ao norte e ao sul da estrutura existente.
O Ishibutai Kofun apareceu na literatura pela primeira vez apenas por volta de 1680. Isso significa que toda sua história precedente, bem como sua associação com Soga no Umako, não passa de especulação. O mistério que envolve Ishibutai, portanto, remanesce. Não seria despropositado supor que ele na verdade seria obra de uma civilização altamente avançada muito mais antiga e desconhecida e como tal teria sido apenas apropriado pelo clã Soga, se de fato o foi.
O Ishibutai Kofun foi designado um remanescente histórico em 1935. Em 1954, foi designado como um Local Histórico Especial (Tokubetsu Shiseki), sendo um dos apenas 75 locais no Japão com esta designação. Como a escavação do Ishibutai Kofun continuou após a Segunda Guerra Mundial, uma reconstrução significativa das áreas ao redor do kofun foi realizada. O Ishibutai Kofun e seus arredores fazem parte do Parque Histórico do Governo Nacional de Asuka (Asuka Historical National Government Park).
O parque gramado ao redor do Ishibutai Kofun é um grande atrativo para as pessoas aproveitarem a mudança das estações. Na primavera, os visitantes podem desfrutar de um piquenique sob as muitas cerejeiras. No verão, há flores de Carthamus tinctorius laranja e vermelho brilhante. O outono é a estação do Hymenocallis caribaea, o “lírio-aranha” do Caribe, Higanbana em japonês, uma planta frequentemente associada a cemitérios. Quando a neve cobre as pedras no inverno, uma atmosfera solene pode ser sentida no local.
O Ishibutai Kofun fica a aproximadamente 25 minutos de Kashiharajingu-mae e da Estação Asuka, que é servida pela linha Kintetsu Yoshino. Existem postos de aluguel de bicicletas (a um custo de aproximadamente 1000 ienes por dia) nas estações Kashiharajingu-mae, Okadera e Asuka, todas na linha Kintetsu da estação Yamato-Saidaiji e da estação Kintetsu Nara. Essas estações também podem ser acessadas a partir da Estação Abenobashi em Osaka. O “Kame Bus” (Ônibus Tataruga), também chamado de Asuka Tour Bus e Asuka Circle Route Bus, atende todos os locais dentro do Asuka Historical National Government Park e sai de hora em hora da estação de Asuka.
Endereço: 1220 Ooaza Oka, Asuka, Takaichi-gun, Nara Prefecture
Coordenadas: 34°28′0.7″N 135°49′34.1″E
Horário: das 8h30 às 17 horas
Ingresso: 300 ienes