Uma reinterpretação dos ritos e símbolos
Saturno já foi o “deus planetário” preeminente. O “Grande Deus” ou “Monarca Universal” dos antigos não era o Sol, mas Saturno, que uma vez pendurado ameaçadoramente perto da Terra… visualmente dominou os céus. Símbolos como: o “olho do céu”, “o templo giratório”, a “nave cósmica” e a “ilha no topo do mundo” foram baseados em observações celestes no céu do norte. Diversos símbolos como a Cruz, rodas do “Sol”, montanhas sagradas, coroas da realeza e pilares sagrados surgiram da antiga adoração de Saturno. A aparência de Saturno na época , radicalmente diferente de hoje, inspirou o salto do homem na civilização, uma vez que muitos aspectos da civilização primitiva podem ser vistos como esforços conscientes para reencenar ou comemorar a organização de Saturno em seu reino “celestial”.
Saturno hoje é reconhecível apenas por aqueles que sabem onde procurá-lo. Mas, há alguns milhares de anos, Saturno dominava a Terra como um Sol, o “Sol primitivo”, presidindo uma Idade de Ouro universal. O homem da atualidade não considera que os céus encontrados pelos primeiros adoradores de estrelas eram diferentes dos nossos céus familiares. Ele presume que os corpos mais distintos venerados nos tempos primitivos eram o Sol e a Lua, seguidos pelos cinco planetas visíveis e várias constelações – todos com a aparência de hoje. Essa crença de longa data não apenas restringe a discussão atual de mitos e religiões antigas; é a doutrina fixa da Astronomia e Geologia modernas: todas as teorias do sistema solar e do passado da Terra se apoiam na “Uniformidade Cósmica” – a crença de que a regularidade de um relógio dos movimentos celestes pode ser projetada para trás indefinidamente. Mas há evidências na memória humana de que ocorreram mudanças extraordinárias no sistema planetário: na era mais antiga lembrada pelo homem, o planeta Saturno era a luz mais espetacular nos céus e seu impacto no mundo antigo foi avassalador. Na verdade, Saturno foi o único “grande deus” invocado por toda a humanidade. Os primeiros símbolos religiosos eram símbolos de Saturno, e tão difundida era a influência do deus do planeta que os antigos o conheciam como o “criador”, o rei do mundo, e Adão, o primeiro homem.
Mito e catástrofe
Dificilmente existe um conto antigo que deixe de falar de convulsões que destroem o mundo e de mudanças nas ordens cósmicas. Quando os mitos falam de sóis que vieram e se foram, ou de “deuses planetários” cujas guerras ameaçaram destruir a humanidade, é provável que os consideremos divertidos e absurdamente exagerados – relatos de inundações, terremotos e eclipses locais – ou os descartamos completamente como expressões de fantasia. Quantos estudiosos, buscando desvendar as lendas astronômicas e os símbolos da antiguidade, questionaram se os corpos celestes sempre percorreram os mesmos caminhos que segue hoje?
Immanuel Velikovsky, no início de 1940, pela primeira vez se perguntou se um distúrbio cósmico poderia ter acompanhado o Êxodo hebraico. De acordo com o relato bíblico, pragas massivas ocorreram, o Sinai entrou em erupção e a coluna de nuvem e fogo moveu-se no céu. Sua busca por uma solução levou Velikovsky a uma pesquisa sistemática da Mitologia mundial e, finalmente, à conclusão de que os mitos antigos constituem uma memória coletiva da desordem celestial. Os “grandes deuses” aparecem explicitamente como “planetas”. Nas guerras titânicas vividamente representadas por cronistas antigos, os planetas se moviam em cursos erráticos, parecendo travar batalhas no céu, trocando descargas elétricas e, mais de uma vez, ameaçando a Terra. Velikovsky expôs suas afirmações de catástrofe celestial em seu livro “Worlds in collision” (publicado em 1950), propondo que primeiro Vênus e depois Marte, no período de 1500 – 686 a.c., perturbaram o eixo da Terra a ponto de produzir destruição mundial. Ele propôs que Saturno já foi o corpo celestial dominante e identificou a época de Saturno como a lendária idade de Ouro. Saturno já foi a luz proeminente nos céus? Os antigos, olhando para “os primórdios”, eram obcecados pelo deus-planeta e se esforçaram de mil maneiras para reviver a época de Saturno. Os símbolos mais comuns da antiguidade, que nossa época considera universalmente como emblemas solares, originalmente não tinham relação com o nosso Sol. Eles eram imagens literais de Saturno, a quem todo o mundo antigo invocava como “o Sol”.
Na era original a qual os mitos se referem, Saturno não era uma partícula remota fracamente discernida por observadores terrestres, o planeta apareceu como uma luz terrível e aterrorizante. E se formos acreditar nos relatos amplamente difundidos da idade de Saturno, o lar do “deus-planeta” era o polo celestial imóvel, muito distante do caminho visível de Saturno hoje. Os primeiros e mais venerados textos religiosos retratam o grande deus navegando em um navio celestial, associando-se a deusas aladas, formando ilhas giratórias, cidades e templos, ou apoiando-se nos ombros de um gigante cósmico. É impossível perseguir a antiga imagem de Saturno sem encontrar o paraíso do Éden, a Atlântida perdida, a fonte da juventude, a “carruagem dos deuses” com uma roda, o Olho do céu que tudo vê ou a serpente-dragão do profundo. Embora seja celebrado como poderes vivos e visíveis, nenhuma das personificações de Saturno ou habitats místicos se conforma com qualquer coisa em nosso mundo familiar. No entanto, uma vez que se busca a natureza concreta dessas imagens, torna-se claro que cada uma se refere à mesma forma celeste. O assunto é uma configuração saturnina de simplicidade surpreendente – cuja aparência, transformação e eventual desaparecimento se tornaram o foco de todos os ritos antigos.
O Grande Pai
Qualquer um que tente rastrear a lenda de Saturno deve contar com a figura divina primordial que as raças antigas celebram como “o grande pai” e que dizem ter primeiro organizado os céus e fundado o reino antedilviano de paz e abundância, a “Era de Ouro”. Embora poucos de nós hoje possam localizar Saturno na esfera estrelada, as primeiras religiões astrais insistem que o deus-planeta já foi o governante todo-poderoso do céu. Mas, paradoxalmente, eles também declaram que ele residiu na terra como um grande rei, ele era o pai tanto dos deuses quanto dos homens. Esse caráter dual do grande pai tem sido o assunto de um debate que dura séculos, mas não resolvido. Ele seria um ancestral vivo posteriormente exagerado em uma divindade cósmica? Ou ele era originalmente um deus celestial que os mitos posteriores reduziram a proporções humanas? Quase uniformemente ignorada é a conexão do homem-deus primordial com o planeta real Saturno. Os mitos dizem que o deus emergiu sozinho do mar cósmico como o poder preeminente nos céus, ele produziu uma nova ordem. Os antigos o adoravam como o criador e o senhor supremo do Cosmos. Este deus solitário, segundo a lenda, fundou um reino de esplendor incomparável. Ele era o ancestral divino de todos os governantes terrestres, seu reino o protótipo do reino “justo” e próspero. Ao longo de seu reinado a terra produzia livremente e os homens não conheciam o trabalho nem a guerra. Na forma imponente do deus-rei, os antigos perceberam o Homem do céu, um gigante primordial cujo corpo era o Cosmos recém-organizado. As lendas costumam apresentar a figura como o primeiro homem ou “homem primordial”, cuja história personificou a luta do bem e do mal, seja enfatizando o caráter do grande pai como criador, primeiro rei ou Homem do Céu, as tradições difundidas proclamam que ele é o planeta Saturno. Ao investigar as características do “deus arcaico”, devemos dar maior importância às religiões astrais mais antigas, aquelas que estão mais próximas da experiência “original”. O melhor material vindo do Antigo Egito e da Mesopotâmia, fornece uma imagem notavelmente coerente do deus e permite ver o desenvolvimento e as distorções da ideia entre os povos posteriores.
No início, os antigos conheciam apenas um deus supremo, uma divindade invocada como o criador e o pai de todos os deuses. Os hinos sagrados e elogios do antigo Egito e da Mesopotâmia, revelam uma tradição de um “grande deus” que remonta aos tempos pré-históricos. Além disso, uma comparação de fontes anteriores e posteriores, em vez de sugerir um desenvolvimento, na verdade indica a desintegração de uma ideia antes unificada em magia, astrologia, totemismo e outros elementos com os quais os “evolucionistas” associam os “primeiros estágios” da religião.
Os textos egípcios antigos invocam repetidamente uma figura singular adorada como a maior e mais elevada luz da era primitiva. Um de seus muitos nomes era Aton, um deus “nascido no abismo antes que o céu existisse, antes que a terra existisse”. Cada localidade no Egito parece ter possuído o seu próprio representante especial do deus pai. Para alguns, ele era Hórus, “o deus que surgiu quando nenhum outro deus ainda existia, quando nenhum nome de nada ainda havia sido proclamado”. Outras tradições o conheciam como Rá, “O deus que nasceu no princípio dos tempos”. Ptah era “o esplêndido deus que existia sozinho no início”. Os diferentes nomes locais da divindade primitiva, embora adicionando complexidade à religião egípcia como um todo, não obscurecem a ideia subjacente. Ele é o “deus único”, o “único”, o “pai dos primórdios”, o “senhor supremo”. Ao examinar a religião egípcia, não se pode deixar de notar a obsessão dos sacerdotes com o passado – e seu retrato vívido do grande deus em sua “primeira aparição”. Ele é um poder visível e concreto, o “senhor do terror” ou “o grande do terror”. A memória desse deus solitário e criador da luz era tão antiga quanto o mais antigo ritual egípcio. Sua aparência e eventual partida – moldou todos os aspectos da visão de mundo egípcia. Da mesma forma, na Mesopotâmia, o monoteísmo arcaico fr-libido.com. Tanto nas religiões suméria quanto na semítica, o monoteísmo precedeu o politeísmo e a crença nos espíritos bons e maus.
Nas tábuas pictográficas do período pré-histórico, a imagem de uma estrela aparece repetidamente. O sinal é virtualmente o único símbolo religioso no período primitivo, e na língua suméria inicial; este símbolo de “estrela” é o ideograma para escrever “deus”, “alto”, “céu” e “brilhante”. É também ideograma de An, o mais antigo e elevado dos deuses sumérios.
As simbologias de Saturno estão relacionadas às estrelas de cinco pontas e de seis pontas. Numa das tabuletas de argila sumerianas podemos observar a deidade Enki, um dos deuses sumérios, junto a uma estrela de seis pontas, que seria a representação de Saturno e seus 11 principais satélites. Essa respectiva tabuleta foi interpretada de forma errada por alguns pesquisadores, como Zecharia Sitchin, como sendo o Sistema Solar.
Conclui-se que o grande deus era uma divindade histórica, que governou o céu por um tempo, depois partiu em meio a grandes convulsões. Os hinos e os textos rituais simplesmente registram a encarnação do deus na era primordial e recontam os cataclismos massivos que acompanharam o colapso daquela era. A tradição geral é global e altamente coerente.
Referências
- The Saturn death Cult, by Troy D. McLachlan
- Worlds in collision, by Velikovsky
- The Saturn Myth, by David Talbott
Parabéns pela excelente matéria da revista enigma.