Romanos na América (?)

Algumas descobertas e testes de DNA podem atestar a possível presença dos antigos romanos no Novo Mundo, além de comprovarem a grande importância que era dada à navegação e à cartografia na antiguidade

A polêmica teoria de que muito antes de Cristóvão Colombo outras civilizações alcançaram a América tem ganhado ainda mais força graças a algumas evidências arqueológicas e científicas. Alguns pesquisadores tentam demonstrar que os antigos romanos – mais de mil anos antes – teriam cruzado os oceanos, inclusive todo o Atlântico, e isso foi possível devido aos seus conhecimentos geográficos e avançada tecnologia naval. Essa discussão sobre a provável capacidade tecnológica de povos antigos pode confirmar ainda mais a ideia de que o processo de evolução da humanidade é completamente diverso de tudo aquilo que a nós possa ter sido propagado desde então.

Com relação aos antigos romanos, sabemos através de possíveis provas que eles eram conscientes da existência de outro continente. Na verdade, essa especulação de novas terras além-mar já fora narrada ainda na antiguidade por Platão, em seu livro Timeu e Crítias, em que o filósofo nos afirma que existira um continente – hoje conhecido por Atlântida – o qual era situado além das Colunas de Hércules. Essa expressão “Colunas de Hércules”  – de acordo com a mitologia grega, cenário de um dos esforços realizados por Hércules[1] – fora assim interpretada como sendo o estreito de Gibraltar, que separaria o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico, além de ligar os continentes europeu e africano.

 

Outro fator que pode ter sido uma motivação para os romanos ingressarem em direção ao Atlântico foi a presença dos Fenícios, povos navegadores que basearam o seu estilo de governo estritamente na “arte” da navegação[2], e desses os romanos souberam aproveitar boa parte de sua “obra” naval: presume-se que, após travarem guerras entre si, as conhecidas Guerras Púnicas entre a República Romana e a cidade fenícia de Cartago, Roma obteve a supremacia do Mediterrâneo com a derrota dos cartagineses. É mais que coerente, então, imaginar que os romanos aperfeiçoaram todo o conhecimento fenício sobre os mares e a geografia para alcançarem outras terras através de uma considerável expansão marítima.

Mapa ilustrativo da suposta expansão romana. Podemos imaginar que essa expansão seria ainda mais além da região do Mare Nostrum. Foto: divulgação

Essa tecnologia nos leva a imaginar o quão grandiosos poderiam ser os navios romanos. Para especularmos que frotas romanas teriam atracado nas costas americanas, bastaria-nos a noção de como seria um daqueles navios. Sobre isso, o livro Quando i Romani Andavano in America (Quando os Romanos Andavam na América), do jornalista e pesquisador Elio Cadelo, descreve o que o antigo escritor grego Luciano di Samosata (120-192 d.C) afirma sobre aquelas embarcações: eram longas 54 metros, com 14 metros de largura e com um deslocamento de 1000 toneladas: “Os romanos, assim como os gregos, foram (tornaram-se) mestres na construção de navios que serviram para lhes assegurar o domínio sobre os mares.”(CADELO, 2006, p 20).[3]

Reprodução de talvez um dos primeiros mapas romanos, do antigo geógrafo Pomponio Mela (séc. I d.C) Foto: romanoimpero.com

 

Exemplos de como seriam as frotas romanas. Foto: misteridelpassato.wordpress.com

ESTRANHAS “EVIDÊNCIAS”

Deparamo-nos aqui com algumas provas que esclarecem mais o fato de que talvez as  explorações geográficas foram, sem sombra de dúvidas, iniciadas ou incentivadas por navegadores da antiguidade, e que é muito provável que os antigos romanos representassem uma considerável potência marinha.

Muito já foi divulgado sobre algumas provas intrigantes que atestariam o monopólio romano sobre terras e mares distantes. Um exemplo de algumas das mais curiosas evidências do que seria essa extraordinária passagem romana nas Américas é a estranha presença de antigos mosaicos, afrescos e estátuas, datados do século primeiro, com a suposta representação de abacaxis e/ou milho – ambos de origem americana: para muitos essas reproduções podem significar uma prova de que havia comércio entre os dois lados do Atlântico, e que ainda se especularia sobre a presença real dos romanos na América. No entanto, existe um eterno debate sobre o que na realidade estaria alí representado: alguns afirmam que se tratam apenas de pinhas, provenientes da Índia ou do sudeste asiático. Para a história oficial, aqueles produtos foram levados para África, Ásia e Europa somente após a “conquista do Novo Mundo”, na época das grandes navegações (século XV e XVI), e considerados exóticos. No entanto, esse forte indício pode sugerir que, muitos séculos antes, essa conquista ou descoberta já havia acontecido.

 

Estátua conservada no Museu de Arte e História de Genebra, de época romana, datada do séc. III d.C. Podemos ver um menino que conserva o que seria um abacaxi em sua mão esquerda. Foto: misteridelpassato.wordpress.com

 

Mosaico de época augustea (Séc. I a.C), encontra-se no Museu Nacional de Roma. Podemos observar que no alto do cesto de frutas, aparece um estranho abacaxi. Foto: divulgação

 

Afresco encontrado em Pompeia, pertencente à “Casa dell’Efebo”. Trata-se supostamente de um abacaxi, representado entre duas serpentes. Foto: divulgação

Dentre as demais provas possíveis da presença romana no Novo Mundo, descobertas ao longo dos anos, citamos também aqui um suposto naufrágio ocorrido na costa da região da Toscana, na Itália, entre os anos 140 e 120 a.C, o qual tem ampliado algumas suposições sobre a navegação clássica. Em seu livro, Cadelo nos narra que foram encontrados instrumentos cirúrgicos, ampolas e materiais farmacêuticos, além de várias ervas medicinais que foram estudadas por institutos de investigação e diversas Universidades.  As análises de DNA feitas nas ervas encontradas serviram de base para atestar que as frotas romanas podem ter navegado bem longe de seu território. Os resultados confirmaram a presença de Hibiscus – provenientes da Índia ou da Etiópia – e de sementes de Girassol – provenientes do continente americano e que particularmente chegariam na Europa por volta do século XV. Esses achados são  muito pertinentes e podem ser uma prova de que realmente é preciso dedicar muito mais ênfase no que a navegação romana e seus artefatos podem nos revelar.

Diante dessa realidade de achados da arqueologia marítima e da ideia de que seria possível que antigos povos, como os romanos, já teriam estado no continente americano, é prudente considerar que o mito sobre Colombo pode ser considerado como uma narrativa de apenas um “reconhecimento” territorial. Um mérito pela ocupação de uma terra já conhecida.


Fontes:

Referência:

  • CADELO, Elio. Quando i Romani Andavano in America: scoperte geografiche e conoscenze scientifiche degli antichi navigatori. 6 ed. Roma: Palombi Editori, 2016.

[1] Conforme a mitologia, essas duas colunas foram separadas por Hércules para facilitar a comunicação entre o Mediterrâneo e o Atlântico. Essa tarefa foi um dos doze desafios ou trabalhos que o herói fora obrigado a realizar para que assim pudesse alcançar a imortalidade.

[2] A forma de governo atribuída aos Fenícios  significava o completo monopólio dos mares, ligada à importância dada à navegação, conhecida como Talassocracia.

[3] “I Romani, come i Greci, furono maestri nella costruzione delle navi che servirono loro ad assicurare il dominio sui mari.”

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