Muito de nós, quando ouvimos falar em um rosto de pedra no estado do Rio de Janeiro, imaginamos de pronto a famosa Pedra da Gávea, situada no bairro carioca de mesmo nome. Porém, na Barra da Tijuca, também existiu um rosto de pedra que a maioria das pessoas da Cidade Maravilhosa não estão familiarizadas.
A já conhecida Pedra da Gávea é o maior bloco de rocha único composto por granito e gneisse, tendo como altura máxima 842 metros, sendo uma das montanhas mais altas do mundo às margens oceânicas.
O monólito está envolto em inúmeras lendas e mistérios, não só referente a sua formação única, mas também em relação a sua origem, que chamou a atenção de toda comunidade científica por séculos, desde a chegada dos portugueses ao Brasil, até os estudos que foram encabeçados por um de seus grandes admiradores, Dom Pedro II, dentre outros pesquisadores nacionais e internacionais que estudaram a Pedra da Gávea a pedido de nosso antigo imperador.
Contudo, neste artigo, vamos investigar a Pedra da Cabeça ou Pedra Santa, tão ou mais misteriosa, que se encontrava próxima a Pedra da Gávea e ficava até mais acessível para pesquisadores interessados em estudá-la na Lagoa Rodrigo de Freitas e que por pura superstição – e medo – foi, infelizmente, destruída! Não apenas pelo pavor místico vigente naquela época a tudo que não podia ser explicado ou tinha uma possível origem pagã, até mesmo desconhecida, mas sim porque o local oferecia um risco real de deslizamento, pois a construção da estrada de acesso ao Jardim Botânico foi escavada sobre a estrutura! Mas, vamos aos detalhes desta história fascinante que compõe o universo da cidade maravilhosa, um evento extraordinário quase esquecido, dentre tantos outros.
A PEDRA SANTA
O Rio de Janeiro, herdou muitas de suas belezas misteriosas de povos esquecidos ou através dos caprichos da natureza. Para a nossa tristeza e pesar, um desses pontos, hoje não existe mais devido ao preconceito e o religiosismo vigente na época por parte da igreja dominadora e Dom João VI, que, aliado e atiçado por um padre da época que passou para a história com o nome de Padre Souto, conseguiu junto ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro a autorização para a destruição da Pedra da Cabeça e posterior aterro da localidade onde ela ficava. Esse mesmo Padre Souto (reverendo Manuel Gomes Souto, empossado com a criação da freguesia de São João Batista da Lagoa, em 1809) também tentou a proeza de solicitar a destruição da Pedra da Gávea, justificando que ela era um ícone pagão a adornar a cidade de São Sebastião e que afrontava os ideais cristãos trazidos para libertar os povos nativos pelos portugueses!
Óbvio, que naquela época, a influência da igreja que denominava todas as construções antigas como obras do demônio, deve ter levado a destruição outros monumentos ancestrais que infelizmente não tiveram a sorte de serem registrados de alguma forma para a posteridade, como foi o caso da Pedra Santa. Hoje, ela pode ser lembrada de alguma forma pelos relatos relacionados ao temor de Dom João VI em passar sobre ela quando o mesmo se dirigia as fazendas de cana de açúcar da região, levando-o a preferir a travessia de barco pela lagoa ao ter que enfrentar a enorme cabeça de pedra de mais de dez metros de altura.
Esta pedra inspirava admiração, respeito e medo em muitas pessoas. O suposto monumento se situava entre a ilha onde hoje fica o Clube Piraquê e o bairro do Humaitá, de onde fitava com seu olhar misterioso o interior escuro da lagoa, que, segundo Maurício de Almeida (Geografia Histórica do Rio de Janeiro, 2010) teve como alguns de seus nomes primitivos Camambucaba, Sacopeña, Sacopenapam, Sacopã ou Socó.
Muito se deve especular porque nosso Monarca se dava ao trabalho de pegar um barco, mais precisamente uma galeota na praia da Piaçava até o outro lado da lagoa, desembarcando na antiga fábrica de pólvora, ao invés de usar o caminho tradicional, onde passaria pela Pedra Santa ou da Cabeça, caso usasse a estrada do Oliveira, que desembocaria no Jardim Botânico, via estrada São Clemente e que mais adiante, passava pela chácara do comendador Laje (que deu origem ao Parque Lajes). Esse sítio era conhecido na época pelo nome Engenho de Martin de Sá, um desmembramento conhecido de uma área maior de nome Nossa Senhora da Cabeça que pertencia ao Sr. Luís Faro, responsável pela abertura da Estrada da Cabeça, que levou este latifundiário a nomear o local, obviamente, por causa da Pedra Santa. Segundo Brasil Gerson (2000), foi essa estrada a primeira rua oficial que dava acesso do morro até a recém criada rua Jardim Botânico!
Óbvio que a capela do Sr. Faro também foi dedicada a Nossa Senhora Da Cabeça, não só pela dedicação deste a uma santa católica, mas também pela influência da imagem formada pela pedra, aparentemente lembrando um rosto feminino que ficava a contemplar as águas escuras e tranquilas da lagoa. Mesmo assim, essa devoção não foi suficiente para convencer o Monarca e o Padre Souto da necessidade histórica e arqueológica do monumento.
Nos dias de hoje restam pouquíssimas representações da Pedra Santa em quadros e desenhos que retrataram esse marco referencial na lagoa. No presente o suposto monumento sequer é lembrado pelos habitantes e turistas, porém, caso houvesse um interesse sincero de nossos governantes, valeria a pena promover uma escavação arqueológica às margens da lagoa em busca da Pedra Santa ou da Cabeça, uma vez que ela não foi explodida, mas sim apenas deslizada para dentro da lagoa, local onde, por muitas era, ela ficou ali, fitando as águas com seu misterioso olhar.
Voltando as obras que retratam esse monumento natural, podemos citar um quadro de 1850 além dos desenhos de Henry Buttler, de 1835, e de C. Dunlop, de 1825.
Fica aqui um apelo para que todos nós busquemos em nossa cidade histórias e lendas que muitas vezes são apenas ecos residuais de fatos e lugares que existiram e lutam bravamente para continuarem na história, mesmo que no imaginário fantástico das lendas de um povo que, mesmo inconscientemente, tenta manter viva a memória local seja de que forma for. É nosso dever como amantes da história verdadeira e buscadores de conhecimento, tentar ao máximo trazer de volta e revigorar as bases do nosso povo e da nossa origem como nação, trazendo a verdade que está oculta nessas lendas e manter os registros para a posteridade!
Muito interessante, desconhecia totalmente esse fato, acho louvável a ideia de trazer a pedra para fora do leito novamente, que atração turística !!!
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