Por André de Pierre

MORRO DA GALHETA 

Neste aclive pude observar o trabalho excelente desenvolvido pelo Adnir através do IMMA, na produção e preservação da trilha do Morro da Galheta, que pode ser acessada por pessoas de todas as idades devido a acessibilidade proporcionada pelo trabalho do Instituto. O dia estava quente e o céu azul, mas na mata estava fresco, isso fez com que nosso desgaste fosse baixíssimo naquele momento. A subida durou uns 20 minutos e, ao chegar ao topo, tive uma vista panorâmica de tirar o fôlego.

Rota da Expedição. (Google Maps)

Ao sair da trilha avistei um Dólmen, típica construção megalítica antiga, muito comum na Europa durante o Período Neolítico, comumente formados por duas pedras na base e uma rocha acima em formato de mesa. Contudo, estranho sair da trilha de uma mata em Florianópolis e dar de cara com uma estrutura assim, não pertencente as culturas locais. Os dólmens nas culturas neolíticas eram utilizados como túmulos, mas e este? Quando se observa as pedras, fica claro que elas não fazem parte da geologia local, o que se concluí que foram arrastadas até ali.

Megálito Morro da Galheta. (Foto André de Pierre)
Megálitos sobrepostos no Morro da Galheta. (Foto André de Pierre)

Mais à frente, chegamos a um impressionante conjunto de pedras muito pesadas que foram cuidadosamente arrastadas e erguidas para a criação de um enigmático observatório astronômico do mundo antigo. Primeiramente, vemos a Pedra Virada, um megálito de aproximadamente 100 toneladas que foi cortado de um bloco ainda maior e transportado até o topo da Galheta. Esse grande megálito está apoiado em rochas menores, formando uma espécie de toca, onde existe uma pedra pequena que parece um travesseiro. Ao repousarmos a cabeça nesta rocha, ficamos com a mesma voltada para o Norte, e, consequentemente, com os pés para o Sul, sendo uma visão privilegiada para observar o Solstício de Verão com os raios solares fluindo na direção do pé até a cabeça, equinócios e o Solstício de Inverno com a luz do Sol em direção ao rosto. Também temos a visão do nascer da Plêiades, Órion e Sirius a seguir, todas em uma mesma direção.

Megálitos do Morro da Galheta. (Foto André de Pierre)

Descendo a leste, vamos de encontro aos megálitos dos Solstícios e Equinócios. São grandes pedras onde fendas foram projetadas para que um feixe luz atravesse o megálito nas datas dos solstícios e equinócios. Segundo Adnir, as pedras, que podem pesar até 100 toneladas, não fazem parte do conjunto geológico daquela localidade, fato que eu pude comprovar ao analisar o local.

Como se isso tudo já não fosse impressionante, esses megálitos estão colocados no solo no formato da constelação de Órion. Mais a frente, Adnir construiu um marco, onde se é demonstrado o alinhamento do observatório com outros diversos sítios arqueológicos do mundo, como Stonehenge e Gizé.

Descemos o morro rumo a Praia da Galheta, onde pude observar o primeiro petróglifo da jornada, nada muito importante comparado com o que viria nos próximos dias. Caminhamos em direção a Praia Mole, observamos a Pedra do Dragão.

FAZENDA PEDRA BRANCA E UR-UBICI

Passamos, inicialmente, pela Serra do Tabuleiro, e eu já comecei a sentir o frio de Santa Catarina. A diferença de temperatura em relação a Florianópolis era grande e a perspectiva muito diferente. Do calor do mar para a paisagem fria da montanha, enfeitada com lindas hortênsias a beira da estrada BR-282. No meio do caminho, visitamos o Museu de Arqueologia Fundação Alfredo Henrique Wagner de Lomba Alta, que contém artefatos arqueológicos, paleontológicos e geológicos. Lá tive meu primeiro contato com alguns objetos das culturas pré-históricas dos sambaquis e outras do Estado de Santa Catarina. Valeu a pena a visita!

Escultura de pedra polida. Museu de Arqueologia Fundação Alfredo Henrique Wagner de Lomba Alta. (foto André de Pierre)

Após mais ou menos duas horas de viagem, chegamos a Fazenda Pedra Branca pontualmente às 9 da manhã. A paisagem fria em pleno Novembro é realmente de assustar um paulista, provavelmente estava próximo dos 10 graus e quem veio nos atender, bem agasalhado, diga-se de passagem, foi Celso Gerber, o proprietário da Fazenda. Gerber nos encaminhou até o início da trilha daquelas pedras monumentais. Pelo Google Earth, não parece tão imenso, sendo esse o diferencial do trabalho de campo que tanto aprecio: vivenciar o lugar como ele é! Logo à direita, observa-se uma grande rocha isolada que aponta para o céu libido-de.com. Investiguei a rocha e infelizmente não encontrei nenhuma inscrição. Subindo mais um pouco, avistei um conjunto monolítico, que, à primeira vista, parecia fazer parte de um centro cerimonial, talvez um cromeleque com diversos menires, contudo não é possível confirmar tal informação em uma visita tão rápida. Vi uma grande rocha em forma de laje e outras pedras ao redor, que parecem terem sido arrastadas para lá. Essa laje imensa parece um templo muito antigo que se desfez, contudo são apenas suposições. O lugar tem um clima mágico, isto é inegável, uma paisagem estonteante.

Ao chegar no cume deste morro, atravessei uma cerca e comecei a andar para a esquerda em direção a uma infinidade de outros grupos de pedras imensas em busca de inscrições, e, infelizmente, não consegui encontrar o que procurava. A impressão que tive do local é que pode ter sido realmente uma espécie de centro cerimonial indígena antigo, contudo, nada vi que me parecesse artificial, todas essas rochas devem estar ali por um processo natural, mas, quem sabe, com tempo e dedicação exclusiva ao local, não se possa localizar outros fenômenos?

Curiosa formação na fazenda Pedra Branca em Lajes. (Foto André de Pierre)

O próximo ponto da expedição era Urubici. Ur ou Uru foi nome da famosa cidade da Suméria, localizada na antiga Mesopotâmia. Primeira civilização conhecida, de Ur saiu um dos personagens mais famosos da história, patriarca do judaísmo, islamismo e cristianismo de nome Abraão. Isso tinha tudo a ver com meu trabalho, identifiquei como um sinal de sucesso.

Pela rodovia SC-110, chegamos à cidade de Urubici lá pelas 16 horas. O objetivo era ir ao Morro da Igreja observar a famosa Pedra Furada e a pirâmide tão divulgada pela internet, contudo o parque estava fechado naquele horário. Então atravessamos a cidade e subimos o morro por 5 km até chegarmos ao local das inscrições. Os petróglifos estavam protegidos por uma cerca, dificultando a pesquisa, mas ao mesmo tempo preservando o local de depredações. Há dois painéis: um com diversas inscrições em formas retangulares parecidas com tabelas e outro com um rosto primata ou humanoide com várias gravuras em formato de cunha abaixo do enigmático rosto. As cunhas estavam difíceis de serem fotografadas devido a posição dos raios solares. Confesso que invadi a cerca, mas como sou um pesquisador, fiz de forma a não depredar o local. Logo um cidadão me chamou a atenção e decidi retornar após documentar mais de perto.

Petróglifo que parece representar a face de um primata, Urubici/SC. (Foto André de Pierre)
Petróglifos em Urubici. (Foto André de Pierre)

O registro dos petróglifos foi rápido e decidimos aproveitar o tempo para visitar um antigo amigo do Adnir Ramos, o pesquisador e fotógrafo Keller Lucas, que segundo ele estava morando na cidade em local desconhecido. Urubici é uma cidade pequena com dez mil habitante, ruas largas, com quadras perfeitas que demonstram um excelente planejamento urbano. Chegamos a casa do pesquisador e fomos muito bem recebidos. Após uma conversa de quinze minutos, Lucas trouxe um livro com fotografias inéditas de petróglifos e megálitos em Santa Catarina. A obra era realmente impressionante, contudo duas coisas me chamaram mais a atenção: diversos petróglifos com desenhos de caduceus (símbolo de duas cobras entrelaçadas utilizado por diversos civilizações do mundo antigo na Europa, Norte da África, Oriente Médio e Ásia Menor) e uma pequena pedra com a escultura de um humanoide e um homem barbado. Como sabemos índios não possuem barbas e caduceus não fazem parte de sua cultura. Aquela pedra fora encontrada em Urubici e comprada por um colecionador de Joinvile. Fiquei pasmo!

Formação na Serra do Corvo Branco. (Foto André de Pierre)
Artefato encontrado em Urubici. (Imagem Keller Lucas)

STONEHENGE NÃO É NADA PERTO DISSO

Oito da manhã nos dirigimos ao Morro da Igreja para observar Pedra Furada. A 1882 metros de altitude, lá foi registrada a mais baixa temperatura do Brasil, -17,8°C. Infelizmente, devido ao mau tempo, não conseguimos observar a Pedra Furada e a suposta pirâmide.

O dia 23 tinha tudo para ser o mais longo e cansativo, porque nosso destino era chegar em Laguna antes do anoitecer, iniciando nosso trajeto pela Serra do Corvo Branco, depois Gravatal, Praia do Ipuã, Laguna e, por fim, voltaríamos para Florianópolis na casa do Adnir, um trajeto aparentemente curto, de 266 km, mas muito complexo, pois envolveria a estrada precária da Serra do Corvo Branco, a pista única até Tubarão, a estrada de terra até Ipuã e depois a balsa de Laguna. Quem conhece sabe que é uma epopeia!

Saímos do Morro da Igreja e em pouco tempo chegamos em um dos lugares mais fantásticos que já estive: na Serra do Corvo Branco. Um espetacular estrada passando nas entranhas de uma montanha com mata preservada, estrada rústica e rochas monumentais. Lá pude avistar uma rocha única aparentemente esculpida, algo parecido com um moai olhando para o horizonte infinito da serra, com  crânio alongado e cônico, a suposta escultura deve ter aproximadamente 100 metros de altura. Mais abaixo, uma figura menor, também na encosta, está claramente esculpida, com cerca de 30 metros. No final da estrada, pude observar uma montanha com o formato de uma pirâmide, característica comum na entrada para locais antigos e sagrados, sem dúvida é a porta daquele mundo antigo pertencente a incrível Urubici.

Formação na Serra do Corvo Branco. (Foto André de Pierre)
Morro em formato piramidal no final da serra. (Foto André de Pierre)

O próximo ponto, a 85 km da Serra, era Gravatal, onde Adnir queria me mostrar um grande megálito que segundo ele havia sido arrastado e colocado naquele lugar. Chegamos ao sítio onde pude observar a grande rocha que deve pesar 200 toneladas ou mais, com ao menos 15 metros de altura e formato de um crânio humano, está encaixada sob duas rochas menores abaixo e mais um conjunto de pequena pedras.

Megálito em Gravatal. (Foto André de Pierre)

Depois de estudar Gravatal, partimos em direção a Laguna, mas antes passaríamos próximos a Praia do Ipuã, em um local que, segundo Adnir Ramos, turistas ingleses que estiveram por lá proferiram a seguinte frase quando viram de perto os grandes megálitos, “Stonehenge não é nada perto disso”. O caminho não é simples para quem vem de longe, saindo de Tubarão, entramos em uma magnífica estrada de terra, uma longa planície de 30 km, margeando um rio estreito do lado esquerdo e uma paisagem bastante desértica do lado direito com curiosos pequenos sambaquis dentro dos sítios à beira da trajeto. A rota já seria absolutamente magnífica para uma pesquisa arqueológica, devido aos sambaquis e aquele panorama bastante curioso, contudo não é de se esperar que daquela planície de repente surja um conjunto de megálitos impressionantes, sem morros no entorno e nenhuma explicação de como chegaram até aquele local. São pedras monumentais espalhadas pelo campo de sambaquis, entretanto uma chama atenção em especial: um megálito de peso incalculável, sobre duas outras pedras imensas com o típico encaixe de três pontos que denota ação humana. Como pesquisador, nunca tinha ouvido falar de tal monumento em solo brasileiro, entretanto ele estava lá, na minha frente. Os ingleses absolutamente acertaram em suas conclusões! É fenomenal! Quem foi o responsável por tal feito?

Adnir Ramos no incrível monumento megalítico de Ipuã. (Foto André de Pierre)

Logo após, nos dirigimos a famosa Pedra do Frade, em Laguna, que diferentemente do megálito anterior, já foi amplamente documentada e estudada, sendo uma espécie de ponto turístico da cidade.

Com dez metros de altura e quatro de diâmetro, o grande megálito é claramente um marco para quem vem do mar. A rocha está assentada sobre uma grande laje e em seu topo há um contrapeso colocado propositalmente. Abaixo observei o encaixe com três pontos, idênticos ao de Ipuã, ou seja, obra executada pelos mesmos engenheiros. Mais uma grande evidência para a pesquisa.

PETRÓGLIFOS COSTÃO DO SANTINHO

Novamente madruguei no dia 24. O objetivo daquele dia era observar inscrições rupestres no Costão do Santinho, em Florianópolis. Precisaríamos chegar lá com o Sol nascendo, para que pudéssemos ter um luz ideal para a observação do painel de petróglifos.

Chegamos exatamente no horário acordado e iniciamos a trilha do Costão do Santinho, morro que divide a Praia do Santinho e a Praia dos Ingleses. A subida tem uma vista monumental, sendo, sem dúvida, um dos cenários litorâneos mais bonitos do Brasil. Descemos a trilha e chegamos as pedras da costa. Elas estavam úmidas e extremamente escorregadias, sendo o terreno mais traiçoeiro que havíamos andado até então. Um queda ali poderia significar sérios ferimentos ou até mesmo a morte, portanto, não é indicado percorrer esta região sem um guia experiente.

Inevitável se perguntar o motivo de se fazer inscrições em um local de tão difícil acesso. Após um curto percurso, começaram a aparecer os primeiro petróglifos em pedras que foram claramente deslocadas do seu local original com o passar do tempo por ação natural. Para mim, isso denota uma grande antiguidade. Andando mais um pouco, chegamos até uma área onde há uma série de inscrições enigmáticas: buracos de forma arredondada que parecem caracteres matemáticos, desenhos em forma de cunha, duas figuras que parecem serpentes entrelaçadas, uma ampulheta, desenhos geométricos de triângulos sobrepostos e, por fim, o desenho de um ídolo ancestral.

Caduceu primitivo no Costão do Santinho. (Foto André de Pierre)

Voltando na trilha, há outros pontos com inscrições. O que mais chama é um próximo a Praia do Santinho, onde foi encontrado o tal “Santinho”, um ídolo que dá nome Praia e a Costa. Lá existem curiosos desenhos geométricos que se parecem com a representação moderna do DNA, outros retangulares e circulares.


Leia a matéria completa na Revista Enigmas Edição 1.

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