Múmias Encontradas No Deserto Do Atacama São Mais Antigas Que As Egípcias

Múmias de quase 9,5 mil anos de idade encontradas no Chile estão intrigando os especialistas, uma vez que seu processo de mumificação data de 3.500 anos antes das mais antigas múmias encontradas no Egito.

O deserto de Atacama fica localizado ao norte do Chile e estende-se até o sul do Peru. Segundo alguns especialistas o Atacama é o deserto mais seco e mais antigo do Planeta. Lá foram encontradas as múmias mais antigas do mundo, as múmias da cultura Chinchorro, uma tribo que viveu na região de Arican, próxima ao deserto do Atacama, entre aproximadamente os anos 7.000 e 7.500 a.C. A civilização possuía avançadas técnicas de mumificação e rituais funerários, inclusive muito tempo antes dos egípcios os chinchorro já praticavam a mumificação de seus entes.

QUEM ERAM OS CHINCHORROS?

Os Chinchorro foram o primeiro grupo de humanos a se estabelecerem ao longo das margens costeiras do Deserto do Atacama, no norte do Chile e sul do Peru. Esta população antiga era composta de hábeis caçadores, pescadores e coletores. Alguns pesquisadores acreditam que os Chinchorro eram descendentes de uma antiga civilização vinda de outro continente pelo mar, a própria etimologia da palavra Chinchorro remete a “pequenos barcos com remos/ redes”, o que indica que eles eram habitantes do mar, ou por terem vindo pelo mar, ou por continuarem usufruindo dos recursos trazidos pelos grandes oceanos, mesmo após sua chegada ao continente sul-americano.

Outros estudiosos argumentam sobre variadas explicações para a origem desse povo misterioso. Uns acreditam que eles imigraram da floresta tropical para a costa, outros que eles eram caçadores andinos que resolveram se aventurar no território da costa peruana. Até os dias de hoje não se tem muitos indícios da verdadeira origem dos Chinchorro, mas sabe-se que sua dieta era composta aproximadamente por 75% de frutos do mar, o que remete à primeira teoria citada neste artigo.

Anzóis feitos de Espinhos e Conchas / Rede de Pesca (chincha), utilizados pelos Chinchorro – Fonte da imagem: http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/FIELD/Mexico/chinchorro4_02.pdf

PROCESSO DE MUMIFICAÇÃO DO POVO CHINCHORRO

Os Chinchorro mumificavam todos os seus mortos, aparentemente não tinham descriminação por posição social, sexo ou quaisquer outras particularidades. As múmias possuíam colorações diferenciadas indo do negro ao vermelho, o que indica maneiras diferentes de mumificação de acordo com as épocas em que cada indivíduo viveu. Entretanto, todas exibem cuidados interessantes, sem exceções, como a remoção completa dos órgãos e a extração de ossos, seguidos de posterior montagem.

Processo de Mumificação Chinchorro – Fonte da imagem: https://ensinarhistoriajoelza.com.br/mumias-atacama-mais-antigas-do-mundo/

A sua técnica de mumificação era única: com lâminas de pedra lascada raspavam toda a carne, esvaziavam o corpo retirando todos os tecidos moles e o sangue. Depois reforçavam o esqueleto atando estacas de madeira aos ossos. As cavidades do corpo eram preenchidas então com ervas, cinzas e pelos de animais. A pele era então cozida e reposta no lugar. Braços e pernas eram também reforçados com paus e depois, um por um, envolvidos em tecido vegetal. O corpo, por inteiro, era coberto com uma espécie de argila de cinza branca, que se pintava depois com manganês preto. Uma máscara de argila com uma sofisticada peruca feita de cabelo humano cobria o rosto e a cabeça. Uma vez pronta, a múmia estava apta a ser transportada acompanhando os vivos, pois acredita-se que eles mantinham as múmias em suas casas, como uma maneira de manter o ente querido “próximo”.

Outro ponto que chama bastantes atenção dos especialistas são as expressões faciais conservadas propositalmente nas múmias, que transmitem individualidade, coisa que não é encontrada nas múmias egípcias, por exemplo. Muitas das pesquisas foram feitas pela equipe do Laboratório de arqueologia da Universidade de Tarapacá, no Chile. Suas avançadas técnicas de mumificação e rituais funerários eram extremamente cuidadosas, e refletem uma cultura com profundos conhecimentos de anatomia.

Múmia de mulher da tribo Chinchorro – Fonte da imagem: https://santiagodochile.com/museu-arte-precolombiano-de-santiago/

A DESCOBERTA DAS MÚMIAS

As Múmias do Atacama vieram à luz em 1917 graças ao trabalho de Frederico Max Uhle, um arqueólogo alemão que realizou importantes escavações no Peru, Chile, Equador e Bolívia encontrando mais de 100 múmias Chinchorro. Mas apenas recentemente, em outubro de 1983, uma companhia chilena de água de Arica, ao realizar perfurações no deserto, encontrou um cemitério com 96 múmias Chinchorro, sendo estas 27 mulheres, 20 do sexo masculino, 7 indeterminadas e 42 de crianças.

Nem todas as múmias encontradas no Atacama são resultado de mumificação artificial, algumas delas são resultado do clima seco e árido do deserto, que teria desidratado os corpos, resultando em um tipo de mumificação natural. Das centenas de múmias encontradas até agora, 29% delas eram resultado dessa mumificação natural, favorecida pelas condições ambientais, os demais corpos foram mumificados artificialmente seguindo a técnica já citada neste artigo impotenzastop.it.

Homem Chinchorro mumificado naturalmente pela ação do Deserto – Fonte da imagem: http://www.ciencia-online.net/2013/08/conheca-as-mumias-mais-intrigantes.html

Foram encontrados grupos de até seis pessoas, possivelmente membros da mesma família, deitados lado a lado, bem como animais de estimação como cachorros, bodes e também restos de animais selvagens como veados e javalis.

Um fato bastante interessante sobre as múmias encontradas no Atacama é que várias delas eram de fetos e recém-nascidos, o que demonstra que eles mumificavam também seus abortos e crianças que morreram logo após o nascimento. Alguns estudiosos afirmam que era grande a taxa de mortalidade de crianças e fetos entre os Chinchorro, uma vez que os resultados dos exames feitos nas múmias revelaram uma alta taxa de minerais tóxicos para o corpo humano, provavelmente proveniente da água que eles tomavam.

Uma das múmias mais bem preservadas encontradas na região é a de um bebê Chinchorro que faleceu com aproximadamente 2 anos de idade. O bebê mumificado foi encontrado enterrado no Vale do Camarones, ao sul de Arica, no Chile. O que mais intriga os especialistas é a idade da múmia, que foi datada em 5050 a.C., tornando-a assim 2000 anos mais velha do que a mais antiga múmia encontrada no Egito.

Múmia de Bebê Chinchorro encontrada no Vale do Camarones, Chile – Fonte da imagem – https://ensinarhistoriajoelza.com.br/stj/wp-content/uploads/2016/09/Mumia-chinchorro_6_beb%C3%AA.jpg

 

O QUE AS MÚMIAS NOS DIZEM SOBRE OS CHINCHORROS

Ainda não se sabe ao certo de onde os Chinchorros realmente vieram, o que se sabe é que se estabeleceram na costa desértica do Chile e Peru por volta de 7500 a.C. provavelmente atraídos pela abundância de recursos pertencentes à região, como anchovas, solha, corbina, mexilhões, algas, caranguejos, focas, leões marinhos, gaivotas, pelicanos e outros pássaros.

Diferentemente do que se supunha no início, os Chinchorros não eram nômades, pois eles construíam aldeias de pesca permanentes onde viviam em torno de 30 a 60 pessoas. Estabelecidos na costa do Chile e Peru, eles puderam construir cemitérios onde realizavam ritos funerários, possivelmente de veneração aos ancestrais. O cuidado com as múmias era um ritual que visava obter a proteção dos antepassados.

Análises dos ossos e do conteúdo dos intestinos das múmias mostraram que os Chinchorro mantiveram a mesma dieta por aproximadamente cinco mil anos. Grande parte dela (75%) derivava da pesca marinha. O peixe era comido cru ou parcialmente cozido conforme atesta a presença de tênia no intestino de 19% das múmias. A dieta era completada com veados caçados, coleta de tomates silvestres e hortelã.

A expectativa média de vida dos Chinchorros era de cerca de 25 anos. Alguns adultos, contudo, atingiram os 30 anos e, uns poucos, chegaram aos 50 anos, sendo uma longa vida para qualquer um na pré-história. Ao se analisar os crânios, observou-se um alto índice de exostose auditiva, um tipo de crescimento ósseo anormal, devido aos muitos mergulhos sem proteção auditiva. Quase todos que apresentaram essa evidência eram adultos do sexo masculino, o que indica que a pesca marinha era trabalho dos homens.

Entre as múmias mulheres, uma em cada cinco sofreu fraturas por compressão das vértebras, resultado de numerosas e seguidas gestações, que debilitaram as mães por tomar-lhes cálcio e outros nutrientes do seu sangue e ossos.

A partir de 3000 a.C., o manganês preto, talvez mais difícil de ser encontrado, foi substituído pelo ocre vermelho, muito comum nas rochas perto de Arica, o que explica a diferença entre cores negras e avermelhadas encontradas nas máscaras das múmias. Eles mumificaram seus mortos até aproximadamente 2000 a.C, quando a técnica caiu em desuso finalmente.


Referências

David, E. : O Enigma das Múmias. Segredos Históricos da Arte da Mumificação nas Civilizações Antigas: 1º Edição: São Paulo: Novo Século: 2008

Nuria Sanz, Bernardo T. Arriaza, Vivien G. Standen: The Chinchorro Culture: A Comparative Perspective. The archaeology of the earliest human mummification: Arica: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization: 2014 – Disponivel em: http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/FIELD/Mexico/chinchorro4_02.pdf

Ensinar História – Disponível em: https://ensinarhistoriajoelza.com.br/mumias-atacama-mais-antigas-do-mundo/ Acesso em 25/07/2019

CHILE365 – Disponível em: https://www.chile365.cl/es-region-15-momiaschinchorro.php?fbclid=IwAR1aPT23KPFSWkq9jSMQuAGA4xCpU3_SZ1LfPN5fvznAzeXS7o8ylqS5mak

History TV – Disponível em: https://br.historyplay.tv/noticias/mumias-mais-antigas-do-mundo-nao-estao-no-egito-mas-na-america-latina-entenda

Blog MegaCurioso – Disponível em: https://www.megacurioso.com.br/arqueologia/69625-mumias-mais-antigas-do-planeta-estao-derretendo-em-museu-chileno.htm

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