A Guerra Contra a História

A disputa por território no Oriente Médio já destruiu sítios arqueológicos de grande importância para a história da humanidade.

O Estado Islâmico vem sistematicamente destruindo comunidades, culturas e história em sua insana guerra sob a falsa bandeira da liberdade e independência do povo curdo. O conflito motivado pela ânsia por dominação territorial fez sua mais recente vítima em janeiro deste ano: um templo de mais de 3 mil anos. Em bombardeio aéreo turco realizado no norte da Síria, o sítio arqueológico onde se localiza o templo de Ain Dara teve devastação estimada em 60% das suas construções e monumentos farmbrazil.com.br/.

O sítio, que ficou famoso por seus leões em basalto e afrescos esculpidos em pedra, foi descoberto em 1982 e possui uma área em torno de 50 hectares. Localizado na região de Afrin, ao norte da Síria, guardava 3 mil anos de história da civilização que viveu naquela parte do planeta durante a chamada “Era Arameia” (1.300 a 1.700 anos a.C.). O templo de Ain Dara é considerado o edifício mais importante construído pelos arameus na Síria. Essa civilização, denominada sírio-hitita, fizera parte de um império na região do Oriente Médio contemporâneo ao Reino da Babilônia. As esculturas do templo eram possivelmente dedicadas aos deuses da Mesopotâmia: Ishtar (deusa do amor e da felicidade), Astarte (deusa que representa a divindade feminina), ou Hadad (deus da chuva).

Sítio arqueológico antes de sua destruição (Foto: Wikimedia Commons). https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2018/01/monumento-de-3-mil-anos-na-siria-e-destruido-apos-ataque-turco.htmlNÃO É UM CASO ISOLADO

Em 2017, o Estado Islâmico destruiu monumentos localizados na cidade de Palmira, considerados patrimônios culturais da humanidade, quando entre outros símbolos, destruíram a fachada do Teatro Romano, datado do século I. Dois anos antes, em 2015, foi a vez do sítio arqueológico assírio de Nimrud, no Iraque, que fica às margens do rio Tigre, quando os terroristas utilizaram veículos pesados para atacar e destruir o sítio arqueológico datado do século XIII a.C., considerado uma das mais importantes heranças arqueológicas do país.

Relevo antigo Assírio 865-860 a.C de Nimrud que mostra o rei Ashurnasirpal acompanhado por seus cortesãos oferecendo um leão em sacrifício (iStockphoto/Getty Images). https://veja.abril.com.br/mundo/estado-islamico-destroi-sitio-arqueologico-do-seculo-xiii-a-c-no-iraque/

Nessa ocasião, o EI havia tomado a cidade de Mosul, onde estão localizados em torno de 1.800 dos 12.000 sítios arqueológicos iraquianos. Esta destruição foi percebida após informações de que os terroristas incendiaram a biblioteca da cidade, com mais de 8.000 manuscritos.

Veja o vídeo:

Como já sabemos através dos estudos a respeito da história dos povos e civilizações, a dominação de um povo sobre outros se dá, entre outros aspectos, pela subjugação da sua história, da sua cultura e dos seus valores, fragilizando assim todas as bases do povo a ser dominado. Desde que o homem se tornou civilizado, motivado pelo desejo de poder que já ia além da necessidade de sobrevivência, muitas perdas importantes ocorreram sem possibilidade de recuperação. Olhando a tempos não tão distantes, vemos até meados da década de 1940, os nazistas destruindo tudo o que se fizera ligado à cultura e à história que sustentava os ideais judeus. De obras de arte a um sem número de títulos literários, tudo transformado e reduzido a cinzas, em nome da imposição da ilusória superioridade ariana, idealizada por Adolf Hitler em seus delírios febris.

Ironicamente, o despertar do homem para a necessidade da preservação do seu passado para que aprenda a construir o seu futuro, tem ocorrido pela destruição da sua própria obra.


Referências:

https://g1.globo.com/mundo/noticia/bombardeios-turcos-danificam-templo-de-3-mil-anos-na-siria.ghtml

https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2018/01/monumento-de-3-mil-anos-na-siria-e-destruido-apos-ataque-turco.html

https://veja.abril.com.br/mundo/estado-islamico-destroi-sitio-arqueologico-do-seculo-xiii-a-c-no-iraque/

 

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